Ticiano Osório | ticiano.osorio@zerohora.com.br
Dez anos separam este O Espetacular Homem-Aranha, de Marc
Webb, que reconta a origem do super-herói dos gibis, com novo elenco, do
Homem-Aranha dirigido por Sam Raimi, que deu a largada em 2002 a uma
trilogia bem-sucedida nas bilheterias (os dois primeiros também
conquistaram os críticos). Com tão curto intervalo entre um filme e
outro, fica a pergunta: vale a pena assistir à superprodução que está em cartaz no Cinema Arcoplex Shopping Pátio Chapecó, em cópias 3D e convencionais, legendadas ou dubladas? ZH comparou os dois títulos.
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Veja o veredicto:
A trama
> Como se espelhasse uma teia de aranha, o roteiro de O
Espetacular Homem-Aranha interliga uma série de personagens e eventos.
Na infância, Peter Parker é deixado aos cuidados de tia May e tio Ben – o
pai, funcionário da Oscorp (a empresa de Norman Osborn, futuro vilão
Duende Verde), ameaçado, precisa fugir. Já adolescente, o rapaz procura
desvendar esse desaparecimento. Descobre que seu pai estava envolvido em
um projeto com aranhas desenvolvidas em laboratório, ao lado do
cientista Curt Connors – que, como os leitores dos gibis sabem, vai se
transformar no Lagarto. Completando a ciranda, quem trabalha como
estagiária de Connors na Oscorp é Gwen Stacy, a paixão platônica de
Parker na escola.
A trama de Homem-Aranha é muito mais simples e bem resolvida. Um dos
acertos é não forçar a mão nas coincidências – só há, basicamente, o
fato de Norman Osborn ser pai do melhor amigo de Peter. Aliás, faz-se um
bom uso do espelhamento na relação do Aranha com o Duende Verde: ambos
surgem ao mundo na mesma noite.
Homem-Aranha > O Espetacular Homem-Aranha
Origem do herói
> Nos dois filmes, Parker é picado por uma aranha modificada
geneticamente e descobre seus superpoderes em situações cotidianas, com
humor – aos poucos no longa de Sam Raimi, com mais velocidade no de Marc
Webb. Em ambos, um ringue de luta livre inspira a confecção do
uniforme. A principal diferença: no primeiro, a teia é orgânica; no
segundo, um artefato desenvolvido por Parker. Pode ser fiel aos
quadrinhos, mas – me desculpem os fãs xiitas – faz mais sentido que um
sujeito, ao adquirir poderes de aranha, também seja capaz de lançar
teias.
Homem-Aranha > O Espetacular Homem-Aranha
O protagonista
> Visto na pele do brasileiro Eduardo Saverin em A Rede Social
(2010), Andrew Garfield, o novo Peter Parker, tem recursos dramáticos
que faltam a Tobey Maguire – que passa quase todo o filme de 2002 com
uma cara de bobão. O ator americano de 28 anos (mas com cara de 18)
transmite convincentemente a inaptidão de Peter para as relações
humanas, sua alegria infantil diante das novas habilidades, sua fúria
vingativa contra o assassino de um ente querido – e também sabe
emprestar ironia e sarcasmo ao Aranha.
O Espetacular Homem-Aranha > Homem-Aranha
A mocinha
> Emma Stone é mais bonita e sensual do que Kirsten Dunst, mas a
ruiva interpretada pela loira no filme de 2002 tem mais carne e osso do
que a loira interpretada pela ruiva em 2012. Você compra desde a
primeira cena a Mary Jane de Kirsten – uma suburbana que namora o
valentão da escola, mas que, no fundo, sonha com uma vida totalmente
diferente. Não dá para engolir que a Gwen Stacy de Emma seja um gênio da
ciência. Ah, e o beijo de ponta-cabeça entre Aranha e MJ virou ícone –
sem mais perguntas, meritíssimo.
Homem-Aranha > O Espetacular Homem-Aranha
O vilão
> É quase covardia. Em 2002, o inimigo era o maior de todos, o
Duende Verde, encarnado com gana por Willem Dafoe, que um pouco antes
havia sido indicado ao Oscar por A Sombra do Vampiro. Em 2012, o rival é
até mais antigo – o Lagarto surgiu em 1963, um ano antes – e guarda em
comum com o antecessor o desejo de brincar de Deus. Mas, no ranking dos
vilões do Aranha, está abaixo de outros três personagens: Dr. Octopus,
Escorpião e Venom (meu coraçãozinho oitentista inclui Kraven, o Caçador,
protagonista de um gibi clássico daquela década, A Última Caçada de
Kraven). Quem interpreta o Lagarto, com uma sobriedade digna de elogio
quando está na pele de Curt Connors, é Rhys Ifans, de Um Lugar Chamado
Notting Hill. Quando é o Lagarto em si que aparece em cena, o personagem
vira apenas um barulhento monstro gerado em computação gráfica.
Homem-Aranha > O Espetacular Homem-Aranha
Os coadjuvantes
> O capitão Stacy encarnado por Denis Leary faz as vezes do
impagável J. Jonah Jameson (JK Simmons) da trilogia original: é a,
digamos, autoridade que empreende campanha contra o aracnídeo – e também
uma das veias cômicas do filme (a tirada sobre Tóquio é hilária). O tio
Ben, interpretado por Martin Sheen no novo filme, é mais robusto do que
o vivido por Cliff Robertson em 2002 – e suas piadas, mais engraçadas,
como aquela sobre o bolo de carne da tia May. Esta, por sua vez, foi
melhor caracterizada em 2002: Rosemary Harris era a cara e o jeito da
personagem, enquanto Sally Field nem se dignou a tingir os cabelos de
branco – por favor, tia May já nasceu velhinha!
Homem-Aranha = O Espetacular Homem-Aranha
Cenas de ação e efeitos
> Se o filme de Webb perdesse nesse quesito, seria de fechar o
estúdio que o produziu. No Homem-Aranha, chegam a ser fajutas as
primeiras cenas de Parker voando pelos arranha-céus de Nova York –
depois, já com o uniforme definitivo, a coisa melhora. Há bons combates
do Aranha com o Duende, como a sequência na ponte do Brooklyn ("a
escolha sádica de um lunático", nas palavras do vilão), mas nada que se
equipare a O Espetacular Homem-Aranha – curiosamente, de novo há uma
eletrizante (e até tocante) cena na mesma ponte.
O Espetacular Homem-Aranha > Homem-Aranha
Fator Stan Lee
> Criador dos principais super-heróis da editora Marvel, Stan Lee,
89 anos, faz pontinhas nas adaptações para o cinema de seus
personagens. No filme de 2002, a aparição é muito rápida e nada
singular, durante um ataque do Duende Verde em Nova York. O Espetacular
Homem-Aranha dá ao gênio a merecida reverência, em uma sequência mais
extensa, mais criativa e bem divertida.
O Espetacular Homem-Aranha > Homem-Aranha
A transcendência
> Os gibis da Marvel se destacaram nos anos 1960 por não se
resumirem a aventuras de super-herói. Os X-Men serviam de metáfora da
perseguição às minorias étnicas e sexuais; o Hulk simboliza o
inconsciente reprimido; o Surfista Prateado panfleteava mensagens de paz
e ecologia. Ao Homem-Aranha, cabia refletir sobre as delícias e as
torturas do universo adolescente. O Espetacular Homem-Aranha opera isso
de modo mais cruel – logo, mais realista. Porém, comete o pecado de não
citar, ipsis litteris, a frase-mantra do personagem e de qualquer garoto
prestes a entrar na vida adulta: "Um grande poder traz grande
responsabilidade", dita com todas as letras por tio Ben em Homem-Aranha.
O Espetacular Homem-Aranha = Homem-Aranha
Veredicto
> Homem-Aranha 6x5 O Espetacular Homem-Aranha. Parece apertado,
mas o primeiro reina nos quesitos mais nobres, e o novo ganha em
categorias técnicas.
ZERO HORA

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